Conheça a jornada inspiradora da guia de turismo Sarah Blasko

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Tóquio – Sarah Blasko já foi missionária, operária, vendedora e trabalhou com produtos artesanais. Mas, quando descobriu seu verdadeiro propósito – ser guia turística –, tudo mudou para melhor, não apenas para ela, mas também para muitas outras pessoas. Entenda como isso foi possível.

Há 17 anos, Sarah era missionária de uma religião japonesa no Brasil e veio ao Japão com o então marido para que ele também se tornasse missionário, e assim retornarem juntos ao Brasil. “Cheguei a realizar esta missão, mas depois fomos trabalhar em uma fábrica, em Ibaraki, e isso mudou a nossa forma de viver”, relata.

Com o tempo, veio o divórcio, e Sarah decidiu permanecer no Japão com a filha. Mais tarde, casou-se novamente. Ao se mudar para Tóquio, trabalhou em uma empresa de telemarketing, onde se destacou como uma das melhores vendedoras. “Como vi que era boa em vendas, saí da empresa e comecei a vender produtos indianos nos parques de Tóquio”, conta.

Veio um novo casamento e a segunda filha, e Sarah iniciou outra atividade: a produção e venda de bordados personalizados. “Eu tinha um ateliê que durou nove anos, onde fazia bolsas personalizadas para crianças. Na época, criei uma comunidade de mães: eu bordava, enviava para elas, e elas montavam as peças. Fiz isso para permitir que as mães pudessem cuidar dos filhos, mas trabalhando em casa”, explica.

‘Meu propósito de vida’

Então surgiu a oportunidade de guiar um grupo de jornalistas turistas, enviados pelos mestres da religião da qual Sarah participou. Os repórteres gostaram tanto do atendimento dela que disseram que, se ela se tornasse guia turística, ninguém bateria o seu serviço. “Na época, havia dois ou três guias brasileiros no Japão. Então fui estudar, tirar as licenças e ver como tudo funcionava nessa área. Foi então que descobri que ser guia era o meu propósito. Eu fui criada para isso”, revela.

Para obter a licença de guia nacional é preciso entrar em contato com o Ministério de Terras, Infraestrutura, Transporte e Turismo, e seguir um processo que leva cerca de cinco anos. Além da parte burocrática, o governo japonês exige que a pessoa visite diversos pontos turísticos e aprenda sobre a história e a cultura da região. “Na verdade, existe uma lista com vários locais turísticos e, enquanto você não visitar todos, não será aprovado. Os japoneses levam esse tempo de cinco anos para visitar todos os lugares”, explica.

No Japão, em 2017, a lei do setor de turismo foi alterada e os falantes de línguas latinas, como português, espanhol e italiano, não precisavam tirar a licença nacional. “Mas como sei que as leis sempre mudam, quis me precaver e tirei todas as que pude, pois já pensava em montar cursos”, explica.

Parceria com 75 pessoas

“Quando comecei a trabalhar como guia turística, queria incentivar as mães a viajar com seus filhos. Eram mulheres brasileiras que vinham ao Japão, e eu as recebia levando também minhas duas filhas. Essas mães moravam em outros países, então era uma oportunidade para minhas filhas falarem português e interagirem com outras crianças. Esse trabalho começou a crescer em 2018 graças à propaganda boca a boca”, lembra.

Com a empresa aberta, Sarah decidiu preparar outras mães para trabalhar no turismo, tornando-se mentora em várias regiões do Japão, como Kyoto, Osaka e Nagano. “Comecei ensinando aquelas mães dos bordados. Elas e outras mulheres passaram a trabalhar remotamente, me ajudando a montar roteiros de viagem”, conta.

Em 2019, Sarah guiou outra jornalista que sugeriu expandir ainda mais o negócio, mudando a razão social da empresa para Guias Brasileiros no Japão e estruturando a parte de marketing. Depois das mulheres, as oportunidades de trabalho oferecidas por Sarah também passaram a ser direcionadas aos homens.

Sarah explica que trabalha com muitas pessoas em diferentes funções, todas preparadas por ela. Há os guias turísticos, os “motoguias”, os “transfers” e os motoristas privados. Os guias acompanham grupos ou casais; o motoguia é o motorista e guia ao mesmo tempo, opção mais barata para quem não quer contratar dois profissionais. O “transfer” transporta passageiros do aeroporto para o hotel, enquanto o motorista privado apenas dirige, sempre acompanhado de um guia turístico. “Eu só trabalho com quem está legalizado. No fundo, formo parceiros. Agora, em agosto, vou treinar mais dez guias turísticos, somando uma rede de 75 pessoas”, afirma.

Motivo da expansão

Sarah atribui sua vontade de gerar oportunidades às pessoas aos ensinamentos da religião que seguia. “Aprendi que o mais importante na vida é felicitar o próximo e ser útil à sociedade. Como empreendo desde os 9 anos, penso que, se eu consigo, outras pessoas também conseguirão, inclusive ter um estilo de vida mais leve”, diz.

O ponto de virada para deixar a fábrica ocorreu quando a filha, que mal falava português. “Isso me doeu muito. Ela passava mais tempo na creche do que comigo. Decidi mudar, cuidar das filhas, para que falassem minha língua e fossem úteis à sociedade”, conta.

Hoje, a filha mais velha tem 18 anos, estuda psicologia em uma universidade japonesa, e a mais nova tem 14. Ambas falam português, japonês, inglês e mandarim. “Como sempre viajei com elas no trabalho, criei minhas filhas para o mundo. Minha ideia era permitir que outras mães também vivessem assim e tivessem renda”, acrescenta.

Sarah também valoriza a interação entre brasileiros que vivem no Japão e os que vêm de fora. “É quando ocorre uma expansão de visão. A pessoa para de pensar apenas em zangyo e passa a criar sua própria empresa de turismo”, diz.

Dicas de quem entende

Durante a pandemia, Sarah viajou de carro por todo o Japão, levando apenas um laptop e um futon. “Foram experiências incríveis, porque evitei as rodovias expressas e conheci cidades e pontos turísticos únicos”, afirma.

Ela dá algumas dicas para quem quer viajar gastando pouco:

  • Verão: As melhores praias, fora Okinawa, estão em Mie e Fukui. Na região de Kanto, recomendo Enoshima. Em Shizuoka, Izu e Atami são lugares maravilhosos.
  • Inverno: Hokkaido, com suas pistas de esqui e festivais de inverno, é o destino certo. Madarao (Niigata/Nagano) e Karuizawa também são ótimas opções.
  • Plantação de chá: As mais bonitas ficam em Shizuoka e Saga.
  • História: Himeji (Hyogo), Kanazawa (Ishikawa), Gifu, Osaka e Okayama são regiões históricas imperdíveis.
  • Economia: Prefira campings ou hotéis econômicos de 3 estrelas. Airbnb é boa opção para grupos grandes.
  • Segurança: O Japão é seguro, ideal para mulheres e mães viajarem.
  • Feriados prolongados: Evite os picos de tráfego (quinta-feira a domingo). Prefira viajar entre a segunda e a quarta-feira e voltar antes do fim do feriado.

Próximo passo

“Meu próximo passo é me tornar guia de turismo internacional. Já levei grupos ao Brasil em parceria com guias locais. Além de atender brasileiros aqui, há japoneses que querem ir ao Brasil e até fazer aulas de dança”, explica.

Sarah também organiza eventos de dança, como forró, bachata e Brazilian zouk. Durante a pandemia, promoveu aulas online e eventos presenciais discretos em clubes e bares. “Mesmo na pandemia, consegui realizar meu propósito: felicitar as pessoas e ser útil”, finaliza.

Foto: Cedidas
Sarah Blasko entre duas turistas que atendeu

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