Bandeira de 'One Piece' vira símbolo dos protestos da Geração Z no mundo

Tóquio – Jovens manifestantes que têm protestado em diversas partes do mundo, como ocorreu no Nepal em setembro, não empunharam bandeiras partidárias, mas sim o estandarte do aclamado mangá japonês One Piece.
Essa bandeira foi fixada nos portões do palácio Singha Durbar, em Katmandu, no dia 9 de setembro, durante protestos contra o governo. Com fundo preto e a imagem de um crânio usando um chapéu de palha, o símbolo se tornou marca das manifestações. Segundo a imprensa internacional, os jovens nepaleses chegaram a derrubar o primeiro-ministro.
Criado em 1997 por Eiichiro Oda, o mangá One Piece narra as aventuras do carismático capitão pirata Monkey D. Luffy e sua tripulação de desajustados, os “Chapéus de Palha”. Eles navegam sob a bandeira Jolly Roger, que traz o chapéu característico de Luffy e seu sorriso inconfundível.
Para os fãs de One Piece, especialmente os integrantes da Geração Z, a bandeira simboliza a luta de Luffy por seus sonhos, a libertação de povos oprimidos e o combate ao governo mundial autocrático. O personagem é destemido e conhecido por usar truques para vencer os inimigos — entre eles, o corpo elástico que o torna quase impossível de capturar.
A bandeira do One Piece não apareceu apenas no Nepal. Ela também foi vista em protestos na Indonésia, nas Filipinas e nas ruas de Paris, onde o clima político segue instável.
Um dos líderes das manifestações nepalesas afirmou que a bandeira “simboliza agressividade e determinação para enfrentar qualquer obstáculo”. Segundo ele, o uso do símbolo reflete a paixão dos jovens nepaleses pelo anime One Piece e a identidade geracional do movimento.
Símbolo cultural global

Monkey D. Luffy (Foto: Reprodução)
One Piece foi publicado pela primeira vez na revista japonesa Weekly Shonen Jump, em julho de 1997. Na época, Luffy tinha 17 anos e atribuía seus poderes de elasticidade à ingestão de uma fruta mítica.
A obra entrou para o Guinness World Records como o mangá com o maior número de cópias publicadas de uma mesma série por um único autor.
Mais de 500 milhões de exemplares já foram impressos em todo o mundo. O sucesso inspirou um anime de longa duração, podcasts, comunidades de fãs e, em 2023, uma adaptação em série lançada pela Netflix.
Especialistas em mangá e anime afirmam que “é impossível não torcer por Luffy”, o que explica a presença de sua bandeira em protestos reais em diferentes países.
Outros símbolos da cultura pop em protestos
O uso de referências da cultura popular em manifestações políticas não é raro em países que enfrentam instabilidade e censura.
Em 2019, o meme Pepe the Frog apareceu entre manifestantes pró-democracia em Hong Kong. Já a saudação com três dedos, inspirada na série Jogos Vorazes, tornou-se símbolo de resistência entre jovens pró-democracia na Tailândia e opositores do golpe militar de 2021 em Mianmar.
No Nepal, jovens exibiram cartazes com frases como “Gen Z não ficará em silêncio”, “Seu luxo, nosso sofrimento!” e “Nepo Babies”, em protesto contra filhos de políticos que ostentam estilos de vida luxuosos nas redes sociais.
Na Indonésia, manifestantes exibiram a bandeira de One Piece durante as celebrações do Dia da Independência, em agosto. O governo reagiu com acusações de tentativa de dividir o país e de traição, o que levou a Anistia Internacional a emitir um comunicado pedindo às autoridades que respeitassem a liberdade de expressão.
O artista indonésio Kemas Muhammad Firdaus declarou à agência Reuters que muitos indonésios hastearam a bandeira de One Piece porque “querem que o governo os escute”.
No Nepal, os protestos da Geração Z começaram após a proibição do uso de redes sociais e denúncias de corrupção no governo. Os manifestantes exigiram responsabilidade e transparência. Já na Indonésia, os jovens também se mobilizaram contra impostos e reformas controversas.
Quem é a Geração Z
A Geração Z abrange pessoas nascidas entre 1995 e 2010, que cresceram em um mundo já completamente digital, com acesso à internet, smartphones e redes sociais desde cedo. São nativos digitais, acostumados a consumir e produzir conteúdo online, interagir em tempo real e processar informações com rapidez.
Culturalmente, a Gen Z valoriza autenticidade, diversidade e propósito. Menos presa a hierarquias, tende a se engajar em causas sociais e ambientais, exigindo transparência e coerência de governos, empresas e personalidades públicas. Também busca participação ativa nas decisões que afetam o coletivo, com foco em inclusão e responsabilidade.
Politicamente, é uma geração que atua globalmente, usando a internet como ferramenta de mobilização e os símbolos da cultura pop como formas de expressão política e identitária. Conecta o mundo digital ao real com um olhar crítico, pragmático e idealista sobre o futuro que pretende construir.
Foto: Reprodução































