Ayurveda no Japão: retiro reúne pessoas em busca de saúde e equilíbrio

Nagano – Um grupo de 15 mulheres participou neste fim de semana do “Protocolo Agni – Detox de Outono”, realizado na vila de Hiraya, na província de Nagano. O encontro, organizado pela astróloga, psicanalista e fundadora da 8 Vidas, Camila Suzuki, foi conduzido por Matheus Macedo, especialista em Medicina e Cirurgia Ayurveda na Índia.
A Ayurveda é um sistema de medicina milenar, desenvolvido na Índia, baseado em textos muito antigos que são considerados evidências científicas e que têm sido revisados há anos pela comunidade médica. A Ayurveda se propõe a conhecer a natureza, como funciona e como o ser humano se relaciona com ela nos reinos animal, mineral e vegetal, para ser mais saudável e feliz.
Matheus explica que a Ayurveda é um sistema que trata e previne doenças e, para isso, utiliza vários recursos, como a alimentação, a qualidade do sono, os hábitos pessoais, as relações interpessoais e a ética no convívio com outras pessoas. “A Ayurveda é usada no caso de uma pessoa que chega doente e monta um caminho para ela sair desse estado. Mas pode valer também para uma pessoa que tem uma vida legal e ajudá-la a manter esse bom caminho”, explica.
O brasileiro, que fundou na Índia o Vida Veda, uma das maiores escolas de Ayurveda do mundo, disse que a Ayurveda, em última análise, visa gerar longevidade com saúde. Tanto é que o primeiro capítulo dos livros relacionados a esse sistema é justamente “como ter uma vida longa e saudável”.
Matheus vive na Índia, onde cursa mestrado em cirurgia ayurvédica e residência clínica em Shalakya Tantra no ITRA (Institute for Teaching and Research in Ayurveda). É vaidya (médico Ayurveda), professor e palestrante internacional. E explicou que o Protocolo Agni criado por ele é um sistema de desintoxicação, ou do inglês “detox”. “Aplico esse protocolo em várias partes do mundo com durações diferentes. No Japão, o protocolo tem o período mais curto.” O Protocolo Agni, basicamente, é a prática do conhecimento ayurvédico para o século 21, segundo ele.
O brasileiro é autor de um livro intitulado “Os Quatro Pilares da Saúde”, no qual expõe essa estrutura baseada nos três pilares da saúde clássica da Ayurveda, com o acréscimo de um quarto pilar. “Falo de alimentação, sono, movimento e silêncio. Ou seja, como a pessoa pode comer melhor para melhorar de saúde se tiver algum problema ou, se não tiver, para continuar tendo uma saúde incrível; como dormir bem; fazer atividades físicas para ter uma longevidade saudável; e o silêncio, que é um pilar de autoconhecimento. Então ensino as pessoas a aplicar os quatro pilares em suas vidas. Quando falo de desintoxicação não me refiro apenas a alimentos, mas também ao campo emocional e ao campo mental.”
A palavra Agni, em sânscrito, significa fogo, mas o fogo digestivo. É um elemento da fisiologia médica que explica como o ser humano digere. “Chamo de Protocolo Agni porque a ideia é que, no período de sua aplicação, sejam quatro ou sete dias, a pessoa possa melhorar sua digestão e digerir coisas mal digeridas, que são como toxinas”, explica Matheus.
Retiro será anual
Camila Suzuki contou ao Portal Japão que decidiu iniciar esses retiros quando descobriu um problema cardíaco em 2018 e chegou a marcar uma cirurgia. “Como fiquei com muito medo da cirurgia, tirei licença de dois meses (julho e agosto daquele ano) do trabalho e comecei a estudar intensamente terapia e Ayurveda. Nesse período, seguia o Matheus na internet, que simplificava os princípios da Ayurveda”, conta.
No mês de outubro daquele ano, quando a cirurgia estava para ser realizada, o médico constatou que o problema no coração de Camila havia desaparecido. “Então, com base no que aprendi, que melhorou minha saúde, decidi plantar a mesma semente, falando de autoconhecimento e saúde para outras pessoas”, diz. E o primeiro retiro começou em 2019, quando realizou o “Café Terapia”, que contava com a participação de outros terapeutas convidados.
Matheus Macedo veio para o Japão no ano passado, no primeiro Protocolo Agni, que contou com 27 participantes, para trazer todo seu conhecimento de Ayurveda para que as pessoas interessadas pudessem cuidar-se de forma integral. “A ideia agora é realizar um retiro todo ano, com o Matheus ou outros profissionais, para promover a saúde mental, física, emocional e espiritual das pessoas da comunidade”, afirma Camila. Qual o requisito para participar? Ela diz: “Basta apenas querer”.
Camila também é cofundadora da 8 Vidas com Matheus, empresa que pratica uma forma de turismo que leve as pessoas à essência do Japão, algo que os programas tradicionais não alcançam.
“Chama 8 Vidas porque preparamos 8 pacotes, e um deles incluirá, por exemplo, a rota pelos 88 templos da região de Shikoku”, cita. Esse programa é comparado ao Caminho de Compostela, na Europa, que muitas pessoas percorrem com fins espirituais.
Quem participou, gostou

Heloísa Giaretta
As atividades durante o Protocolo Agni – Detox de Outono são estruturadas nos quatro pilares citados por Camila, incluindo meditação e aulas de yoga com a professora convidada Karolina Yamaguchi. Matheus dá dicas para melhorar o sono, incentivando os participantes a desligar os celulares mais cedo e a consumir refeições mais leves à noite. O menu do retiro é vegano, muito leve, também desenhado e aprovado por Matheus. E tudo isso vem agradando às participantes.
É o caso de Heloísa Giaretta, 42, que veio de Hong Kong para participar do retiro. Ela soube por meio de uma amiga e decidiu encarar porque procura algo diferente e inusitado no Japão, justamente com foco no “detox corporal e mental, com aprendizado básico de Ayurveda”. “Estou aberta a experimentar e me aprofundar em práticas como meditação, que já fazia, mas não rotineiramente, além de yoga, para tornar hábitos de longo prazo”, diz.
Em Hong Kong, ela tem uma filha de 6 anos e trabalha como guia turística, conciliando os cuidados com a família e as redes sociais, além de elaborar os passeios. Na vida corrida que leva por lá, ela diz que terá desafios pela frente, como entrar na dieta vegana, deixar o consumo de café e retomar o yoga. “Encaro estas novidades como oportunidade de aprendizagem. Se gostar, vou incorporar na vida; se não, estará tudo bem por ter aprendido algo a mais”, finaliza.

Cristiane Marques de Oliveira
Cristiane Marques de Oliveira, 58, veio do Rio de Janeiro para participar do retiro, depois que Matheus Macedo anunciou na internet o “Protocolo Agni” no Japão.
“Aquilo tocou o meu coração e, por ser impulsiva, decidi participar. Quando soube que a Camila realizaria um tour antes do retiro, aceitei na hora. A vida no Rio é muito agitada, com jornada de trabalho de 10 horas, e lá viajo o Brasil todo profissionalmente. O trânsito do Rio é uma loucura, com muita gente buzinando. Então essa vinda ao Japão serviu como uma ‘parada’ nessa agitação toda”, finaliza.

Laryssa Alves Santos
Residente em Kyoto, Laryssa Alves Santos, 24, participou pela segunda vez do retiro. Ela disse que aprecia estar com pessoas mais velhas, na faixa dos 30 aos 50 anos, para aprender sobre temas que geralmente não são debatidos por pessoas de sua idade. “Participar desse retiro é uma oportunidade de sair da rotina, reforçar os aprendizados do ano anterior e adquirir novos conhecimentos”, diz.
Laryssa conta que procura incorporar o que aprendeu no retiro. “Estou lutando para sair da zona de conforto de forma gradual. Eu não espero mudanças da noite para o dia. E o Matheus traz ensinamentos práticos sobre como melhorar a qualidade de vida progressivamente. Para isso, é fundamental conhecer a si mesmo, sua história, sua família e entender que cada pessoa é diferente”, cita.
Um dos temas discutidos no encontro, que atraiu a atenção de Laryssa, foi a raiva, emoção natural do ser humano, mas da qual muitos tentam fugir ou lutar contra. “O perigo é que essa resistência à raiva pode levar a pessoa a se tornar uma ‘panela de pressão’ que, eventualmente, explodirá perto das pessoas que ama”, descreve.
Fotos: Portal Japão
































