Pesquisadora brasileira cria caneta que detecta câncer em 10 segundos

Estados Unidos - A química brasileira Lívia Schiavinato Eberlin desenvolveu uma caneta capaz de identificar se um tecido do corpo é saudável ou cancerígeno em apenas 10 segundos durante uma cirurgia. Ela é professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, e a tecnologia recebeu o nome MasSpec Pen, conhecida como caneta que detecta câncer.
A MasSpec Pen é conectada a um espectrômetro de massas, equipamento que identifica as moléculas presentes em uma substância e revela sua assinatura química. O dispositivo pesa e compara as moléculas do material analisado e mostra quais estão presentes e em que quantidade, segundo o G1 e outros veículos.
Como funciona?
A tecnologia foi adaptada para uso médico a partir de ferramentas aplicadas em investigações forenses, controle de qualidade de alimentos e exames antidoping. O médico encosta a ponta da caneta no tecido suspeito e o dispositivo libera uma microgota de água estéril. Em poucos segundos a caneta identifica o padrão molecular daquele tecido e indica se ele é saudável ou cancerígeno.
A própria Lívia Eberlin explica que o processo funciona de maneira semelhante ao preparo de um café. "A água extrai moléculas da amostra sólida sem remover o tecido. A análise ocorre de forma imediata e sem causar danos", diz.
A caneta tende a ser muito útil em cirurgias oncológicas porque um dos maiores desafios é determinar com precisão o tamanho do tumor e até onde é seguro cortar sem comprometer órgãos ou funções do corpo.
O tecido é o conjunto de células que forma partes do organismo, como fragmentos do pulmão, da tireoide, do fígado ou da mama. Quando há um tumor, células cancerígenas podem se infiltrar nesses tecidos e avançar para áreas próximas. Por isso o cirurgião precisa identificar com clareza onde termina o câncer e onde começa o tecido saudável, conhecido como margem de segurança cirúrgica.
No método tradicional a equipe médica remove parte do tecido suspeito e envia o material para análise em laboratório. Esse processo pode levar até uma hora e meia. Durante todo esse tempo o paciente permanece anestesiado e com parte do corpo aberta enquanto a equipe aguarda o resultado para decidir o quanto pode ser removido.
Lívia explica que mesmo patologistas experientes podem encontrar dificuldade para fornecer uma resposta precisa sobre a margem de segurança porque o congelamento altera a estrutura do tecido. "Com a caneta o resultado surge em segundos diretamente na sala de cirurgia e o cirurgião sabe de imediato se precisa retirar mais tecido", esclarece.
A tecnologia já foi validada em um estudo publicado na JAMA Surgery em 2023 com mais de 100 pacientes submetidos a cirurgias de tireoide e paratireoide, alcançando acurácia superior a 92 por cento. Pesquisadores continuam avaliando seu desempenho na detecção de diferentes tipos de câncer.
Brasileira em destaque
Lívia Eberlin é natural de Campinas, em São Paulo, formada em Química pela Universidade Estadual de Campinas. Concluiu doutorado na Purdue University e pós-doutorado em Stanford.
Hoje ela lidera uma equipe na Baylor College of Medicine e dirige a startup MS Pen Technologies, responsável pelo desenvolvimento e futuro lançamento comercial da caneta.
O próximo passo é buscar aprovação da Food and Drug Administration nos Estados Unidos e, futuramente, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil.
Foto: Vivian Abagiu/Universidade do Texas
































