Brasileiro Gabriel Morales representa o país como copiloto no Mundial de Rali

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Aichi – Nesta semana começa a etapa do Japão do Campeonato Mundial de Rali (WRC), na sigla em inglês). E nesse universo do automobilismo há um brasileiro em destaque: Gabriel Morales, 35 anos, copiloto que compete na WRC2, categoria de acesso à principal divisão do campeonato. Vivendo na Finlândia, ele contou um pouco de sua trajetória ao Portal Japão.

Gabriel nasceu em São Paulo e é filho de Lídia, 63 anos, e Carlos, 64. Sua avó, Kimiko Yamamoto, nascida na província japonesa de Kagawa, imigrou para o Brasil na década de 1950. O avô é filho de japoneses.

“A minha avó faleceu há algus anos. Ela falava português com certa dificuldade. Infelizmente eu não aprendi japonês. Meu avô era filho de japoneses e faleceu antes de eu nascer”, relata.

O nome do meio de Gabriel é Yamamoto, mas nas competições ele usa o nome de guerra Gabriel Morales. “Estive na etapa do Japão em 2022 e, antes e depois do campeonato, aproveitei para conhecer alguns lugares, como o Museu da Toyota, em Nagoya (Aichi), e Tóquio”, conta.

“Gostei muito de correr no Japão, porque o público é muito ligado ao automobilismo, o que é bem diferente do habitual”, acrescenta.

Participação de Gabriel Morales no rali no Japão em 2022

Curiosamente, seus pais também foram navegadores. O pai, conhecido no mundo do rali como KZ, aposentou-se da profissão em 2024. Já a mãe deixou as corridas antes do nascimento de Gabriel. “Minha mãe era navegadora em ralis de regularidade”, lembra.

A influência familiar veio cedo. Desde os 10 anos, Gabriel acompanhava os pais nas competições no Brasil. “Meu contato com o rali foi natural. Aos 17 anos participei da minha primeira prova no Brasil”, conta.

Papel do copiloto

Nas corridas de rali, o carro é composto por dois profissionais: o piloto, responsável por acelerar e manter o carro na pista, e o navegador, ou copiloto, que orienta o trajeto com base em anotações detalhadas sobre curvas e obstáculos.

“O copiloto é como o goleiro no futebol. Se ele defender todas, fez um bom trabalho. É uma função que não chama tanta atenção. O navegador precisa orientar o piloto no tempo certo, nem antes, nem depois, e manter contato constante com a equipe”, explica Gabriel.

O copiloto brasileiro com seu parceiro no mundial, o boliviano Bruno Bulacia

Ele conta que piloto e copiloto analisam o circuito cerca de uma semana antes das provas. “Além de passar as informações sobre cada ponto da pista, o copiloto é quem controla o tempo. Preferi ser copiloto porque não tenho habilidade para pilotar, então decidi ser o melhor possível na minha função”, afirma.

Neste ano, Gabriel não participará da etapa do Japão por causa de um problema envolvendo seu parceiro, o boliviano Bruno Bulacia. “Paramos de correr o campeonato em julho por dificuldades financeiras da família do Bruno”, explica.

O copiloto brasileiro destaca que, em muitos casos, piloto e copiloto alugam o carro e contratam uma equipe para competir. Boa parte dos custos da dupla vinha da família de Bruno Bulacia.

Início no mundial

Eles competiram na primeira metade da temporada na WRC2, categoria equivalente à Fórmula 2 em relação à Fórmula 1 com um carro Toyota Yaris GR Rally2. “Existem algumas diferenças. Os carros da WRC2 têm motores menos potentes, mas as provas acontecem nas mesmas etapas da categoria principal”, detalha Gabriel.

Gabriel Morales com o seu companheiro anterior, piloto Paulo Nobre

Antes da parceria com Bruno, entre 2017 e 2022, Gabriel foi copiloto de Paulo Nobre, ex-presidente do Palmeiras, também no Mundial de Rali, principalmente nas etapas europeias. “Corremos com a equipe italiana Motorsport Italia”, lembra.

Em maio do ano passado, Morales conquistou o terceiro lugar no WRC Vodafone Rally de Portugal, a quinta etapa do Mundial. Ele e Bulacia vinham de um quarto lugar no Rally da Croácia. O desempenho da dupla foi amplamente elogiado.

No WRC, Morales liderou uma etapa em 2022, tornando-se o primeiro brasileiro a alcançar esse feito. Ele também foi campeão brasileiro nas categorias 4x2 Super e RCN2, e do Rali dos Sertões na categoria UTV Super Production, além de títulos paulistas, gaúchos, paranaenses e das copas Peugeot, segundo o site Rallybr.

Em sua trajetória, Gabriel já correu por equipes espanholas, francesas e portuguesas.

Acidentes

Nas provas de rali, as equipes também disputam as provas especiais. Os carros saem do núcleo da competição, como o estádio de Toyota (Aichi), local da etapa japonesa, e seguem por trechos de vias públicas, respeitando as regras de trânsito, até o ponto determinado pela organização, onde ocorre a prova em si.

“Quando corremos no Japão foi bem difícil, porque as ruas têm muitas curvas e poucas retas. Além disso, as árvores ao redor cobrem a pista com folhas e lama, deixando o trajeto escorregadio”, relata.

Mesmo com a proteção dos veículos e dos equipamentos de segurança, acidentes são inevitáveis. “No início de 2024 sofremos um acidente forte na Suécia. O carro ficou destruído, mas saímos ilesos. Posso dizer que ocorre a média é de um acidente por ano”, afirma.

Morar na Finlândia

Mesmo fora do restante do Mundial neste ano, Gabriel segue ativo. Desde que se mudou para a região de Helsinque, na Finlândia, participa de provas pontuais, como uma realizada recentemente na França e outra em Portugal, com um piloto local.

“O piloto aluga o carro, contrata a equipe e convida um copiloto. Alguns conseguem patrocínio para cobrir todos os custos, outros contam com a ajuda da família”, explica, como é o caso de seu parceiro Bruno Bulacia.

Em 2024, Gabriel participou de 17 corridas; neste ano, de oito. Em média, são cerca de 20 por temporada. “O copiloto precisa estar sempre em evidência para ser lembrado por pilotos e equipes. Eu mantenho contato com todos para continuar nas provas. A melhor forma de ser lembrado é estar nelas”, comenta.

Mesmo vencendo uma prova, piloto e copiloto não recebem prêmios em dinheiro, apenas troféus. “Corremos porque está no sangue e pela satisfação de vencer. Os ganhos vêm quando há patrocínio ou contrato”, diz.

Segundo Gabriel, a carreira é instável e semelhante à vida de um empreendedor. “Tem dia que se ganha, tem dia que se perde. Mas eu não dependo só das corridas para viver”, explica.

Com a experiência acumulada, ele presta serviços a três brasileiros que competem em ralis na Europa.

Para viver mais de perto o mundo do rali, mudou-se para a Finlândia há dois anos. Mora em Espoo, cidade próxima a Helsinque, com cerca de 314 mil habitantes e banhada pelo Golfo da Finlândia.

“Ainda não falo finlandês, mas como a maioria das pessoas fala inglês, me viro bem assim”, conta.

Gabriel Morales segue acelerando sua trajetória. “Meu grande sonho, como o de qualquer um no esporte, é conquistar o título mundial e integrar uma equipe de fábrica. A carreira de copiloto é longa, dá para correr até os 65 anos. O físico conta muito, mas quero continuar até os 60”, finaliza.

Fotos: Cedidas/Massimo Bettiol

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