Salários não acompanham preços, e investimentos entram no radar no Japão

Tóquio – Uma dúvida cruel atormenta muitas pessoas no Japão: como arcar com o custo de vida quando o salário permanece praticamente o mesmo de anos atrás? De uns tempos para cá, a lista de produtos com preços em alta só cresce. Os salários estão perdendo essa corrida. Mas podem existir alternativas, ainda que exijam mais esforço e preparo.
Economia em recuperação lenta
Analistas afirmam que a economia japonesa luta para se recuperar em meio à inflação elevada e à desaceleração global. O Produto Interno Bruto (PIB) real caiu 0,2% anualizado no início do ano, pressionado pelo setor público e pelo comércio exterior. Já o PIB nominal cresceu 3,6%, mas a inflação elevada continua sendo um risco.
O PIB real mede a produção de bens e serviços ajustada pela inflação, refletindo melhor o crescimento econômico. O PIB nominal cresce em valor monetário, mas pode mascarar perdas de poder de compra.
Apesar do cenário, alguns indicadores foram positivos: o investimento privado avançou, impulsionado por um mercado de trabalho aquecido, e o consumo das famílias cresceu 0,5% no trimestre. Caso a inflação convirja para a meta de 2% do Banco do Japão, existe espaço para recuperação, ainda que persistam incertezas ligadas às tensões comerciais com os Estados Unidos. A expectativa é que o crescimento real permaneça modesto até o final de 2025.
Salários continuam fracos
O ponto mais sensível para os japoneses são os salários. Apesar de anúncios expressivos nas negociações sindicais (shuntō), o impacto real tem sido limitado. Neste ano, o aumento médio anunciado foi de 5,3%, o maior desde os anos 1990.
Ainda assim, em maio de 2025, a renda bruta total cresceu apenas 1% em relação ao ano anterior, mas caiu 2,9% em termos reais, após ajuste pela inflação. Analistas consideram improvável que os aumentos salariais deste ano atinjam os níveis de 2024.
Os rendimentos programados (salário base sem bônus e horas extras) cresceram 2,1%, bem abaixo dos 4,3% de 2024. Além disso, o principal fator que limita o avanço da renda agregada é a redução nas horas trabalhadas: a média mensal atingiu o nível mais baixo desde 1990 — caiu de 172 horas/mês em 1990 para cerca de 137 em 2024.
O bolso no supermercado
Para a população, todas essas estatísticas só fazem sentido na hora de pagar a conta no supermercado. O salário continua praticamente o mesmo, enquanto os preços disparam.
A velha fórmula de trabalhar mais (arubaitos em dias de folga) pode ser uma saída temporária, mas cada vez mais se questiona se vale a pena.
Investimentos como alternativa
Outra forma de buscar renda extra é por meio de investimentos. O mercado financeiro oferece diversas opções, mas exige estudo e preparo. Investir sem conhecimento é arriscado: qualquer erro pode resultar em perdas significativas.
Entre as alternativas estão:
- Ações na Bolsa de Tóquio (TSE)
- Permitem investir em empresas japonesas de diversos setores.
- Requer abertura de conta em corretora autorizada.
- ETFs (Exchange Traded Funds – Fundos de Índice)
- Replicam o desempenho de índices, como o Nikkei 225 ETF (com as 225 maiores empresas do país).
- Oferecem diversificação, liquidez e custos menores do que comprar ações individualmente.
- Títulos Públicos Japoneses (JGBs)
- Considerados entre os investimentos mais seguros.
- Juros são historicamente baixos, mas oferecem estabilidade para perfis conservadores.
- Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs)
- Alternativa para quem deseja exposição ao setor imobiliário sem precisar comprar um imóvel.
- Geram renda com aluguéis ou valorização dos ativos.
- Imóveis
- Estrangeiros podem adquirir imóveis no Japão sem restrições significativas.
- Investimento de longo prazo, comum em Tóquio e Osaka.
- Forex (mercado de câmbio)
- O maior mercado financeiro do mundo, movimenta mais de US$ 6 trilhões/dia.
- No Japão, é bastante popular, especialmente no par USD/JPY.
- Vantagens: alta liquidez, diversificação global, possibilidade de alavancagem.
- Riscos: perdas rápidas para quem opera sem preparo.
Entender a economia para decidir melhor
A economia funciona como uma onda: períodos de crescimento e de crise se alternam. Assim como um organismo vivo, ela dá sinais sobre o que pode acontecer no futuro. É a partir dessa leitura que governos, empresas e investidores traçam suas estratégias.
Por isso, conhecer os movimentos econômicos ajuda não só a investir melhor, mas também a empreender e planejar a vida financeira em um ambiente de incerteza.
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