Pavilhão do Japão em Osaka 2025 - entre vidas, água e tempo, o anel que não se fecha

Entramos e o tempo parece circular. A madeira forma anéis, a luz escorre pelas frestas e a água no centro respira calma. O Japão chamou esse caminho de Between Lives. A ideia é simples e forte. Tudo volta. O que jogamos fora vira energia. O que estudamos vira cuidado. A visita tem três capítulos - Plant, Farm e Factory - e pode começar por qualquer um. No fim, o ciclo se fecha do mesmo jeito.
O prédio
Assinado pela Nikken Sekkei com direção geral de Oki Sato, o pavilhão usa CLT (Cross-Laminated Timber) - madeira laminada cruzada - em anéis concêntricos apoiados por estrutura metálica. É sólido e leve ao mesmo tempo. A madeira foi pensada para desmontagem e reuso depois do evento. Caminhando, a luz muda a cada passo. O espelho d água no centro marca o ritmo e puxa o olhar de volta para o essencial.

Plant - do resíduo à água e energia
A sala escurece. Pontos de luz contam o trabalho dos microrganismos que transformam restos de comida em eletricidade e água. O BE@RBRICK (um boneco de arte criado no Japão pela Medicom Toy) aparece como guia lúdico e aponta o caminho do carbono. Em vitrines, a parceria com a Kaneka mostra micro-organismos que usam hidrogênio para capturar CO2 e gerar polímeros que voltam à natureza. É ciência de perto, sem rodeio.
No mesmo percurso, um meteorito de Marte cria silêncio. Há também grãos reais de poeira trazidos dos asteroides Itokawa e Ryugu. É o pedaço de cosmos que lembra como cada ciclo começa muito antes da gente.
Farm - da água aos materiais, com algas em cena
Aqui a estrela é a espirulina. Um fotobiorreator transforma luz, água e microalgas em matéria. A sala fica verde e pulsante. Para explicar tudo de forma direta, a Hello Kitty aparece em versões inspiradas por diferentes algas.
Hello Kitty algas - o que cada uma explica
Mallomonas
- Tamanho 0,01 a 0,06 mm, água doce
- Micro-organismo coberto por escamas pontiagudas, cor amarelada
- Ajuda a purificar a água, mas pode cheirar a peixe quando se multiplica demais
Volvox
- Diâmetro da colônia 0,03 a 1 mm, água doce
- Centenas a milhares de células verdes formam uma esfera gelatinosa
- Move-se rolando, as bolas maiores internas são descendentes
Stephanopyxis
- Diatomácea, 0,03 a 0,15 mm, água salgada quente
- Concha tipo cápsula, liga-se a outras por saliências e forma fileiras
- Lembra um espeto de bolinhos
Spirulina
- Cianobactéria de água doce, 0,001 a 0,003 mm
- Forma espiral que gira no fundo de lagoas
- O alimento vendido como spirulina costuma ser do gênero Arthrospira
Phacus gigas
- Euglenófita, 0,10 a 0,12 mm, água doce
- Corpo achatado como leque, flagelo longo à frente
- Mancha ocular vermelha orienta a direção da luz, nada girando em arrozais e lagoas
Braarudosphaera bigelowii
- Haptófita marinha, 0,01 a 0,02 mm
- Escamas de carbonato de cálcio em forma de pentágono
- Pouco mudou desde o fim do Cretáceo
Lemmermannia tetrapedia
- Alga verde, 0,010 a 0,015 mm, água doce
- Quatro células triangulares formam um quadrado
- Une-se em unidades maiores, comum em lagoas e brejos
Rhaphoneis
- Diatomácea, 0,03 a 0,10 mm, água salgada
- Concha vítrea em forma de limão
- Fixa-se na areia rasa, casca forte e útil para uso industrial
Hijiki - Sargassum fusiforme
- Macroalga parda, 50 cm a 1 m, água salgada
- Caules cilíndricos com folhas finas, vive no entremarés
- Amarela debaixo d água, fica preta quando seca pelo alto teor de ferro
Sea grapes - Caulerpa lentillifera
- Alga verde, 10 a 20 cm, água salgada
- Ramos com bolinhas, comum em Okinawa e no Sudeste Asiático
- Conhecida como uvas do mar
Kombu - Saccharina japonica
- Alga parda, 1,5 a 7 m, água salgada
- Fitas marrons longas
- Base clássica de caldo saboroso, muito valorizada na culinária
Calcidiscus leptoporus
- Haptófita marinha, 0,02 a 0,03 mm
- Escamas calcárias como giz, dois discos sobrepostos
- Minúscula e flutuante, encontrada em oceanos do mundo todo
Phacus helicoides
- Euglenófita, 0,07 a 0,12 mm, água doce
- Corpo retorcido como corneto de chocolate
- Nada com rotação tipo broca
Aulacoseira
- Diatomácea, 0,03 a 0,30 mm, água doce
- Células em forma de barril que viram filamentos, às vezes enrolados
- Vive em lagos turvos, ajuda a remover compostos de nitrogênio e fosfato
Marimo - Aegagropila brownii
- Alga verde, 2 a 30 cm, água doce
- Começa filamentosa presa a rochas
- Vira bola quando os filamentos rolam no leito do lago, como no Lago Akan
Desmodesmus
- Alga verde, 0,010 a 0,035 mm, água doce
- Cadeia de quatro células elipsoidais com espinhos nas pontas
- Flutua em lagoas e canais, resistente a esmagamento
O grupo CHITOSE apresenta aplicações em comida, fibras, cosméticos e plásticos de fonte biológica.
Na área das algas, as mesas circulares funcionam como infográficos vivos. Cada círculo compara a eficiência das algas com algo do dia a dia: o item pequeno à esquerda é o referente e as peças verdes ao redor mostram quantas vezes as algas conseguem fazer o mesmo. No painel do CO2, a relação 1:14 indica que algas podem absorver até 14 vezes mais dióxido de carbono do que um cedro. No painel da água, 1:50 mostra que, usando a mesma quantidade de água, algas produzem até 50 vezes mais proteína do que a carne bovina. No painel da proteína, 1:36 indica que algas podem gerar até 36 vezes mais proteína do que o grão de soja. A Hello Kitty ao centro marca o tema de cada comparação e ajuda a leitura. Os números oferecem uma ordem de grandeza para entender por que as algas entram na conversa sobre clima, água e alimento.
Factory - dos materiais aos produtos, tradição que vira método
O percurso fecha com produção em movimento. Doraemon conduz a conversa sobre fazer bem e manter ao longo do tempo. Um exemplo vem de casa. A ponte Nagarebashi aceita a cheia do rio, solta partes, depois se recompõe. Outro exemplo olha para a Lua. O módulo SLIM pousou com pernas projetadas para ceder e dissipar energia. Sem força bruta. Só inteligência de projeto.
Perto dali, braços robóticos imprimem banquinhos com bioplástico à base de algas, que estão colocados em vários cantos do pavilhão. A matéria que você viu crescer na Farm vira objeto sob seus olhos. Fim do ciclo, começo de outro.
A usina de biogás
Ao lado do prédio funciona a usina que recebe resíduos alimentares da Expo. Microrganismos fermentam, geram gás e energia elétrica, e água retorna tratada. Existem visitas técnicas nas empresas envolvidas que mostram o processo de ponta a ponta. É a parte que amarra discurso e prática.
Despedida
A Expo Osaka 2025 termina, mas o pavilhão continua dentro da gente. Ficou o som dos robôs imprimindo bancos de algas. Ficou a textura da madeira que volta a viver. Ficou a pedra marciana que cabia na mão. Saímos com uma ideia simples para levar pra casa. Cuidar do ciclo é parte do nosso dia. Separar resíduo, escolher melhor o que usamos, apoiar pesquisa que devolve mais do que tira. O anel da Expo se desfaz, a vida segue em círculo. E esperamos estarmos vivos para presenciar uma próxima Expo no Japão.