Falta de motivação e ansiedade afastam mais de 350 mil alunos das escolas japonesas

Tóquio – Mais de 350 mil alunos do ensino fundamental e médio no Japão faltaram às aulas por longos períodos no ano letivo de 2024. O número recorde foi divulgado pelo Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia.
O total exato chega a 353.970 estudantes em todo o país, que se ausentaram das atividades escolares por 30 dias ou mais entre abril do ano passado e março deste ano, informou a NHK.
O dado representa um aumento de 7.500 em relação ao ano anterior e marca o 12º crescimento consecutivo.
Entre os motivos, 30% dos estudantes disseram não se sentir motivados para a vida escolar. Um quarto afirmou não conseguir se adaptar aos horários escolares, enquanto 24,3% citaram ansiedade e depressão.
O levantamento apontou que 216.266 alunos do ensino médio faltaram às aulas, um aumento de cerca de 150 em comparação ao ano letivo anterior. Já entre os estudantes do ensino fundamental, o número subiu cerca de 7.300, totalizando 137.704.
Segundo o Ministério, o número de estudantes do quinto e sexto ano quadruplicou em relação ao de dez anos atrás, enquanto o de alunos do primeiro e segundo ano aumentou cerca de sete vezes.
O professor Takahiro Oguri, da Universidade Atomi, acredita que o período da pandemia afetou o desenvolvimento infantil e as relações interpessoais, já que as escolas também sofreram restrições.
Oguri lembra que, quando as crianças faltam às aulas nos primeiros anos, os pais muitas vezes precisam deixar seus empregos por falta de opções de apoio à guarda infantil. Ele destaca a importância de oferecer suporte tanto às crianças quanto a seus pais ou responsáveis.
Falta de motivação preocupa
As autoridades do Ministério manifestaram preocupação com o número crescente de estudantes exaustos, ansiosos, deprimidos e desmotivados para ir à escola, informou a NHK.
Especialistas acreditam que o principal fator é a pressão excessiva sobre as crianças desde cedo para que se destaquem. Além das aulas, muitos alunos frequentam cursinhos preparatórios e preenchem o tempo livre com atividades extracurriculares ou esportivas. O resultado é um número crescente de jovens exaustos, que acabam abandonando os estudos.
Há casos de estudantes que preferem seguir caminhos alternativos, em vez de insistirem em um sistema educacional tradicional voltado para carreiras convencionais.
O governo japonês busca soluções. Uma delas, implementada desde 2004, são as Escolas de Aprendizagem Diversificada, que organizam o ensino por nível de habilidade e adotam métodos de aprendizagem flexíveis, com menos horas obrigatórias que as instituições padrão.
Outra alternativa são as escolas não credenciadas, que oferecem ensino online para alunos com dificuldade em frequentar aulas presenciais. No entanto, apenas uma pequena parcela opta por essas modalidades.
Repensar a educação
O professor Daisuke Sonoyama, da Universidade de Osaka, defende que o Japão precisa repensar sua abordagem à educação pública e buscar inspiração em modelos de outros países.
Sonoyama destacou que a França criou um centro nacional de ensino a distância, permitindo aos alunos estudar por correspondência. Lá, o ensino domiciliar também é autorizado, desde que as famílias garantam um ambiente de aprendizagem adequado em casa. “Isso significa que os alunos têm liberdade para escolher onde estudam”, disse ele.
Para o professor, qualquer sistema de apoio aos estudantes que se ausentam das escolas japonesas deve considerar suas perspectivas após a conclusão do ensino médio. Sem caminhos reais que levem a empregos futuros, ele alerta, mais jovens acabarão sendo deixados para trás.
Foto: Banco de Imagens




























